POR DAGMAR GARROUX
Hoje em dia, muito se fala em sustentabilidade de países, cidades, comunidades. Preocupação com o meio ambiente, salvar o Planeta, atitudes ecologicamente corretas.
Tudo isso é muito importante, sim. Entretanto, muitos se esquecem do principal, no meio de todas essas questões e atitudes.
Se não houver uma preocupação com a educação, para que as pessoas entendam o que está errado e como podem contribuir para que toda essa situação possa ser revertida, nada vai acontecer.
E o governo tem o poder na mão para fazer essa transformação, investindo na educação.
Precisamos fazer uma revolução educacional. Precisamos investir em educação, entendendo que conhecimento é a compreensão da realidade e surge de um esforço de investigação para descobrir o que não está compreendido ainda.
Entendendo que conhecimento não é compreender a realidade retendo informações, mas compartilhá-las para descobrir o novo e avançar rumo a um mundo melhor, porque, quanto mais competente for o entendimento do mundo, melhores serão as ações para transformá-lo.
Quando temos paixão pela vida e por aquilo que fazemos, conseguimos ter competência, ser referência para outras pessoas e ter força para formar multiplicadores. E só assim garantir a sustentabilidade de um projeto, de uma comunidade, de uma ação, enfim do nosso Planeta, que é a nossa casa.
Quando somos maiores que aquilo que fazemos, nada pode nos desequilibrar. A educação tem sentido quando caminha para o desenvolvimento humano, contribui para a formação da consciência do ser humano, dos jovens, das crianças.
Consciência da nossa identidade sistêmica (biológica, psíquica, cultural, social, histórica), comum a todos os seres humanos. A consciência de que moramos todos na mesma casa (o Planeta Terra) e de que temos que arrumar nossa casa.
Somos a única espécie que não faz falta para o Planeta, para a teia da vida. Não podemos mais pensar em raças (as raças são para animais).
Precisamos identificar a complexidade da natureza humana, que atualmente está totalmente desintegrada na educação. E situar nossa natureza no universo, e não separá-la dele.
Também é essencial trabalhar a educação para a compreensão, em todos os sentidos: entre seres humanos, entre países, compreensão do universo, dos fenômenos naturais e da própria educação como meio de transformar toda a situação do Planeta.
Precisamos trabalhar a alfabetização ecológica, para poder trabalhar o meio ambiente e a sustentabilidade.
Um país que não investe nos jovens, e para quem os jovens são problema e não solução, está, ele sim, com graves problemas.
A escola de hoje é primitiva. E, com essa escola, qualquer projeto de sustentabilidade não vai caminhar. É preciso investir mais na educação, na multiplicação do conhecimento (que é diferente da informação).
A informação é passageira. Não podemos esquecer o ser humano para conseguir conquistar a sustentabilidade.
Promover a inteligência geral das pessoas, utilizar os conhecimentos existentes, identificando os erros para poder corrigi-los, formando os jovens como multiplicadores de sustentabilidade: prover o melhor para as pessoas e para o mundo, tanto agora como para o futuro.
Quem age assim cria uma onda que se propaga ao seu redor e provoca novas mudanças em outras pessoas que, por sua vez, geram ondas em torno de si em uma pirâmide do bem que se espalhará por toda a sociedade.
E tudo que é do bem tem amor. Sem amor nada tem sentido, sem amor estamos perdidos, sem amor corremos de novo o risco de estar caminhando de costas para a luz.
Amo a minha loucura que me vacina contra a estupidez, o amor que me imuniza contra a infelicidade que prolifera, infectando almas e atrofiando corações.
A vida é um cântico à beleza, uma chamada à transparência, à solidariedade e à gratidão.
O silêncio de uma folha que cai, de pássaros cantando nas árvores, não deveriam ficar sem ser ouvidos. As flores e as estrelas deveriam ter conexão com o coração. Rio correndo, água nascendo da terra, vento nas folhas. Barulho do sol esquentando, brilho do sol iluminando, lua, estrelas.
A riqueza do saber ouvir, sentir, escutar, falar. O respeito pelo saber do outro.
Educar é, antes de tudo, um ato de amor. É deixar derramar o coração. É facilitar a descoberta das múltiplas e infinitas relações, o que é, em última análise, descobrir o amor, a interdependência entre todos os seres e todas as coisas.
Ao amor não damos ordens, não podemos comandá-lo. Quanto mais colocamos amor no ato de educar, menos ele se torna uma obrigação.
O amor é quieto, não faz barulho, desperta valores como a beleza, a verdade, a harmonia, o respeito ao universo e sua organização.
Esta é uma conquista de dentro para fora, e não algo imposto. Os valores brotarão como algo interiorizado, inerente à pessoa, uma vez que serão despertados pela consciência do que somos e da nossa relação com o universo.
Dagmar Rivieri Garroux, pedadoga, é fundadora da Associação Educacional e Assistencial Casa do Zezinho (www.casadozezinho.org.br)