Por Fernanda Favaro – Prêmio Empreendedor Social Folha
O jornalista André Trigueiro (Globonews e CBN) lançou esta semana, em São Paulo, o livro “Mundo Sustentável 2: Novos rumos para um planeta em crise” (Ed. Globo, 400 pgs.). Com reportagens e artigos de especialistas convidados, o livro analisa a crise socioambiental atual e mostra soluções que já estão sendo colocadas em prática como resposta ao problema. Ao blog Empreendedor Socioambiental, Trigueiro falou sobre a urgência de ações em prol da sustentabilidade global e sobre o papel do jornalismo e das pessoas, individualmente, neste contexto de desafios sem precedentes.
No seu primeiro livro, a ideia era fortalecer a pauta da sustentabilidade na mídia. Neste segundo, você traça um panorama do “estado das coisas” em diversos campos socioambientais, mas mostra boas soluções que estão despontando. Há uma relação “evolutiva” entre as duas obras?
O livro manteve-se vivo em catálogo e com boa vendagem durante seis anos. O projeto original era fazer uma edição revista e atualizada. Mas nos deparamos com tantas informações novas e importantes que a solução foi lançar um novo livro. Mantivemos apenas alguns textos ainda pertinentes e de grande valia para a compreensão da realidade socioambiental. São 400 páginas com muitas informações, diagnósticos e soluções para alguns dos grandes problemas da atualidade e que serão discutidos daqui a quatro meses na Rio+20.
Você comentou, em uma entrevista pro seu site Mundo Sustentável, que seu desejo com o novo livro é subsidiar discussões sobre mudanças e soluções para um mundo em grave crise ambiental. Que contribuição a obra pode dar nesse sentido?
Agravar o senso de urgência. Perdemos o direito de errar ou hesitar. A hora é de agir e há preciosos elementos de convicção que justificam mudanças estruturais importantes no atual modelo de desenvolvimento. Não corrigir o rumo é crime de lesa-planeta! Os diagnósticos são contundentes e as soluções para os problemas do clima, da água, do lixo, da energia, do consumismo, da mobilidade urbana e de outras questões preocupantes existem e já são realidade em alguns lugares do mundo. Falta praticar o que se diz em escala global, decantar as ideias em favor de uma nova atitude.
Qual é, na sua opinião, o maior obstáculo para que a humanidade vire o jogo dos enormes problemas ambientais que enfrentamos hoje?
Resistimos culturalmente às mudanças. É difícil mudar hábitos, comportamentos e padrões de consumo em favor da sustentabilidade sem que haja um bom motivo para isso. O papel do jornalismo num mundo que experimenta uma crise ambiental sem precedentes na História da Humanidade é denunciar o que está errado e sinalizar rumo e perspectiva. Precisamos ser claros ao justificar a necessidade de um novo modelo de desenvolvimento onde a geração de emprego e renda não seja sinônimo de destruição sistemática dos recursos naturais não renováveis. É sustentável todo projeto ou empreendimento que respeite os limites do planeta. Nós já cruzamos a linha imaginária deste limite. O que vem por aí será sombrio se não corrigirmos o rumo.
Como você vê a relação seres humanos versus planeta? Conseguiremos nos “salvar”, como espécie, antes que a Terra termine de “se salvar” de nós – pensando nessa ação parasitária do homem sobre o planeta e em como ele responde a isso?
Não nascemos para promover nosso próprio extermínio. Não somos suicidas. Acredito na tomada de decisão em favor da vida. Espero apenas que essa nova consciência não venha a reboque de grandes catástrofes. A pedagogia da dor é infalível, mas indesejada.
Acredita que exista um ponto de virada de consciência da humanidade com relação à sustentabilidade do mundo? O que falta para “chegarmos lá”?
Não acredito que falte mais nada. Daí minha perplexidade com a letargia de alguns setores que poderiam acelerar processo na direção certa. Veja o caso das negociações do clima. Apesar de todas as evidências de que a humanidade contribui para a mudança do clima com emissões crescentes de gases estufa, e do alerta do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (avalizada pela maioria absoluta dos países) de que não poderíamos permitir a elevação da temperatura média do planeta acima de dois graus Celsius (com base no que se registrou no período pré-revolução industrial) sob o risco de testemunharmos uma reviravolta sem precedentes no clima da Terra, o máximo que conseguimos avançar até agora é a definição de um novo acordo global do clima para 2020 (?!). Por que esperar tanto tempo se o risco climático exige medidas urgentes? Não saberia responder a essa pergunta.
Das iniciativas positivas comentadas no livro, alguma que te chame mais a atenção? Por quê?
Difícil destacar uma só. Mas gosto muito da tecnologia dos biodigestores para tratar esgoto doméstico sem uso de energia elétrica ou produtos químicos, transformando o efluente em água de reúso. É simples, barato e já testado em várias comunidades do Brasil.
Como foi a escolha dos textos do livro? Você procurou criar alguma unidade entre as vozes diversas que compõem a obra?
Além de reportagens minhas exibidas no rádio e na TV, ou de artigos publicados em jornais, revistas e na internet, conto com a preciosa contribuição de 35 especialistas com notório saber nas respectivas áreas do conhecimento em que atuam. O livro é sortido, repleto de informações e sem nenhuma preocupação em segmentar conteúdos por afinidade política ou ideológica. O que empresta unidade a esse trabalho é o comprometimento em favor da vida.
O jargão “Pensar global, agir local” parece mais atual do que nunca. O que você diria pras pessoas que se sentem motivadas por este pensamento, mas ainda não sabem muito bem por onde começar?
A verdade é que todos sabemos o que pode ser feito em favor da redução do desperdício. Como usar de forma mais inteligente água e energia? Posso consumir menos e ser feliz? Como promover o descarte inteligente de meus resíduos? Conheço a minha pegada ecológica? Posso reduzir as minhas emissões de gases estufa sem grandes sacrifícios? Essas e outras questões precisam fazer parte do nosso cotidiano. E as respostas podem ser muito interessantes. Faz bem para a alma a gente se sentir útil para o bem estar coletivo e para o planeta. O coeficiente de caráter e altruísmo dos ambientalistas é elevadíssimo. São invariavelmente pessoas menos egoístas ou imediatistas.
Seu compromisso com a pauta ambiental é praticamente uma missão de vida. Como você coloca o jornalista – e o jornalismo – nesse contexto de desafios? É preciso avançar na cobertura ao ponto de ela se tornar uma, também, uma missão?
Sou espírita e não acredito que estejamos neste planeta a passeio (rs). Todos nós, sem exceção, temos generosas oportunidades para evoluir individualmente e contribuir para o bem estar coletivo. Não há sustentabilidade sem paz, inclusão social, erradicação da miséria e da pobreza. Também não há sustentabilidade onde impere a ostentação e a opulência. Extrapolando o Espiritismo para conectar outras fontes de sabedoria, convém lembrar do “caminho do meio”, preconizado por Buda, ou da genial frase proferida no início do século passado por Mahatma Gandhi :” A Terra possui o suficiente para atender às necessidades de todos os homens, mas não a ganância de todos os homens”.
O que te motivou a ceder os direitos autorais do livro ao Centro de Valorização da Vida (CVV)?
Sou fã do CVV. A organização está completando 50 anos de existência agora em 2012. São cinco décadas de um trabalho voluntário reconhecidamente sério de apoio emocional e prevenção do suicídio. São aproximadamente 1 milhão de ligações por ano! Não há nada mais urgente do que a nossa sobrevivência e o CVV trabalha na linha de frente de quem se sente solitário, triste, deprimido ou simplesmente sofre por não ter com quem conversar. Eles precisam de ajuda para se manter, e também ter o serviço divulgado nacionalmente. Estou fazendo a minha parte.
Pra terminar, o que o leitor pode esperar do Mundo Sustentável 2?
Um belo panorama do mundo atual e muitos argumentos em favor de uma nova atitude.
André Trigueiro, autor de "Mundo Sustentável 2" (foto: Odervan Santiago)