Animais são os mais afetados pela seca
25/05/12 14:25POR JOSÉ DIAS
(continuação do post de 23/5)
De acordo com informações das famílias de agricultoras e agricultores do médio sertão da Paraíba, no momento, são os animais os mais afetados com as conseqüências da seca.
Vejamos alguns dados:
Dados em relação à água e ao alimentos para os animais:
Situação A – Família sem reservatório especifico para os animais (57%) não dispõe de água destinada à criação e dependem de amigos ou familiares -ou optam por criar seus animais em outras propriedades. Será essa uma boa opção produtiva para essas famílias? Será que o número de animais, criados por cada família, está compatível com a demanda de água ofertada por amigos ou familiares? Será que essa ação não limita a capacidade das famílias que estão ofertando essa água?
Situação B – Famílias com reservatório (43%) que se destinam também para criação animal afirmam que a quantidade de água disponível não atende à necessidade (demanda) para o restante do ano. Afirmam ainda, que caso se confirme a estiagem, também, no mês de maio, terão que se desfazer (vender) parte ou todo o seu rebanho. É importante ressaltar que esses reservatórios não se destinam apenas para criação animal e sim para todos os gastos gerais da casa. Questão: estão essas famílias dimensionando a capacidade hídrica com a quantidade de animais que estão criando, considerando que os reservatórios são para os gastos gerais da casa?
Com relação à estocagem de alimentos para os animais:
Quatro famílias (57%) afirmaram que não possuem mais pasto na propriedade para alimentação animal e que já estão comprando ração para os animais.
Para três famílias (43%), nas propriedades ainda existe um pouco de pasto, porém não o suficiente para atravessar o restante do ano. Essas famílias também já estão comprando ração como forma de garantir a pastagem para um período ainda maior.
Seis famílias (86%) ainda não venderam animais por conta da seca, porém todas afirmam que, a continuar a situação como está, terão que se desfazer, no todo ou em parte, do seu rebanho.
Uma família (14%) já vendeu parte de seus animais por falta de pasto.
Questão: a quantidade de animais que as famílias estão criando é, também, compatível com o tamanho das propriedades? A escolha do tipo de animais que criam está correta, considerando a realidade climática?
Em relação à alimentação humana:
Cinco famílias (71%) afirmam que ainda possuem um estoque (mínimo) principalmente de milho e feijão, contudo, dará no máximo até o mês de julho para quatro dessas famílias.
Apenas uma família (pequena, com duas pessoas) afirma que possui estoque de cereais suficiente para atender a sua necessidade no restante do ano.
Duas famílias (19%) já estão comprando cereais para suprir a necessidade alimentar.
Questão: Nos momentos favoráveis, em termos produtivos, as famílias estão estocando o suficiente para suprir, ao menos em parte, os momentos de risco (seca)? Estão produzindo realmente o que é possível produzir, nas propriedades ou estão se tornando dependentes do mercado?
Principais dificuldades trazidas pela seca, no relato das famílias: falta de água; diminuição ração animal; elevação custo dos alimentos, com perspectiva de fome; ociosidade (diminuição trabalho).
Diferença da seca de 2012 em relação às secas anteriores, no relato das famílias: Hoje as famílias possuem um poder aquisitivo melhor; nesta seca, muitas famílias nem sequer chegaram a plantar; a escassez de água é bem maior; as famílias sentem mais porque aumentaram suas estruturas (ex: criam mais); hoje a população é maior em relação às secas anteriores; no passado as secas eram mais freqüentes, isso fazia com que as famílias se prevenissem melhor; nesta seca, as famílias têm estruturas de captação e armazenamento de água (cisternas, tanques em pedra, barragens subterrâneas, etc.). No caso das cisternas, mesmo não tendo chovido, algumas ainda tem água e, as que não têm, pelo menos dispõem de um reservatório para armazenar água vinda de outras localidades.
Propostas das famílias para melhorar a situação: frentes de trabalho (alimento por trabalho) para estrutura obras comunitárias; reestruturação de antigas fontes de água (exemplo: cacimbas); investir no processo formativo sobre uso racional da água, para o consumo humano e para produção, como forma de se preparar para futuras secas futuras; limpar mananciais (desassorear); estruturar a comunidade para o ano seguinte ter mais condição de enfrentar os desafios (realizar mutirões).
Que obras poderão fortalecer os/as agricultores/as para melhor conviver com a seca, no relato das famílias: construção de cisternas (mesmo para famílias que já possuem), como forma de ampliar sua capacidade hídrica; construção de cisternas para produção (com capacidade de armazenar 52 mil litros de água); construção de poços artesianos e amazonas; construção de açudes, onde as bacias ou sub-bacias ainda suportam; construção de barragens subterrâneas; construção de barragem para armazenamento de um maior volume de água que possa alimentar as estruturas das propriedades da agricultura familiar, quando de uma grande seca.
José Dias Campos, economista, é fundador do Cepfs (Centro de Educação Popular e Formação Social)