O impacto da maior estiagem dos últimos 47 anos
10/05/12 13:12POR JOSÉ DIAS
Notícias veiculadas nos meios de comunicação dão conta de que a seca deste ano, 2012, está sendo a maior dos últimos 47 anos! Também os depoimentos de agricultores de base familiar reforçam ou confirmam essa versão.
Surge, portanto, a pergunta: que elementos podem estar ocasionando essa dimensão? Sem dúvida, devem ser vários os aspectos, mas alguns são percebíveis pelos próprios agricultores, a partir de suas observações e comparações.
O primeiro aspecto levantado está relacionado ao crescimento da população humana e animal. Há uma curva ascedente do crescimento populacional e, de certo modo, uma curva descendente em relação à quantidade e qualidade dos recursos naturais disponíveis à população para gerar qualidade de vida.
Apesar de nos últimos as organizações da sociedade civil terem feito um trabalho importantíssimo –aglutinadas em fóruns, a exemplo da Articulação Semiárido Brasileiro– no tocante à formação e à mobilização social da população da região para a convivência com os efeitos das mudanças climáticas, por meio da implementação de várias tecnologias sociais de convivência com a realidade semiárida, essa região sofreu intervenções equivocadas do ponto de vista técnico e quanto ao uso dos recursos naturais.
Isso levou uma parcela significativa da região à condição de área em processo avançado de desertificação. Hoje significativa parte do semiárido está desprotegida de cobertura vegetal, aspecto este de grande relevância para a proteção das nascentes de água, mas, também, de grande influência no equilíbrio do clima.
Por outro lado, além do aumento populacional, as famílias foram educadas para novos hábitos de higiene, algo de grande relevância no processo de desenvolvimento. Fala-se que as pessoas, no passado, só tomavam banho de oito em oito dias.
Também, com certeza, havia mais dificuldades em relação ao acesso de bens de consumo, dentre eles vestuários, mas, também, de bens duráveis, do tipo carro, motos, etc., que necessitam de água para a lavagem. Por conta disso, gastavam menos água nesta parte de consumo.
Sem dúvida, eram poucas as residências rurais que contavam com banheiros com descargas. Portanto havia menos gasto de água nesse tipo de consumo. Outro aspecto levantado é que a maior parte da população passara por sucessivos anos que, mesmo não sendo chuvoso, chovia o suficiente para fazer água para o consumo humano e para os animais.
Assim, a população, nesta seca, foi pega despreparada, pois pensava que, talvez, não houvesse mais anos tão fortes de estiagem como os acontecidos em tempos passados
Outro aspecto também percebível é de natureza geográfica. Dados dão conta que cerca de 80% do território do semiárido brasileiro está sendo afetado pela seca de 2012 e, inclusive, em partes desse percentual, já não chove há dois anos, portanto, os impactos são muitos maiores, em todos os sentidos. Já são mais de 550 municípios atingidos.
Esses aspectos revelam a necessidade de um monitoramento constante entre o crescimento populacional de uma determinada região e o uso racional dos recursos naturais por parte dessa população, claro, sobretudo, se houver preocupação, de fato, com o aspecto da sustentabilidade.
O que tem ocorrido, não só em relação à zona rural dos municípios, mas, também, em relação às cidades, é que há um crescimento ascedente da população, mas, poucos estudos são feitos no sentido de desenvolver infra-estrutura básica para gerar qualidade de vida sustentável para essas populações.
Não há dúvida de que é necessário trabalhar o desenvolvimento local, sempre antenado para os fatores de crescimento populacional e uso sustentável dos recursos naturais.
Nesse contexto, utilizar-se dos estudos já existentes em relação às bacias e sub-bacias hidrográficas ou fazer novos é um caminho importante para planejar uma política de estruturação hídrica que possa da suporte ao consumo humano e as necessidades das famílias no tocante a higiene, produção, dessedentar os animais etc.
POLÍTICAS PÚBLICAS
Mas qual o caminho possível para desenhar uma política capaz de responder a demandas desta natureza?
Resgatando-se os estudos que já foram feitos sobre as potencialidades naturais das bacias e sub-bacias hidrográficas e somando-se a isso um processo de interação com o conhecimento que vem sendo acumulado pela sociedade civil, fruto de suas iniciativas de promoção do encontro de saberes locais, implementação de tecnologias sociais etc.
Dessa forma é possível planejar e fomentar uma política pública onde esteja planificada a estruturação de reservatório de acumulação de um maior volume de água, justamente para dar suporte nos períodos de estiagens prolongadas, e desenvolver a ampliação da malha difusa de tecnologias sociais já trabalhadas por organizações da sociedade civil nas propriedades da agricultura familiar.
Isso a partir das potencialidades existentes em cada propriedade (cisterna de captação da água do telhado, cisterna de enxurrada, tanque em lajedos de pedra, poços amazonas, barragens subterrâneas, barreiros trincheiras, captação de água em lajedo de pedra e armazenamento em cisterna, captação de água em estradas e armazenamento em cisternas, etc.), de tal modo a possibilitar condições de captação e armazenamento difuso, mas também condições de captação e armazenamento concentrado, a partir dos potenciais existentes para o suporte necessário, das estruturas difusas quando de períodos prolongados de estiagem (seca).
A questão é: a qual gestor público interessa desenvolver uma política pública, com esse enfoque?
Estruturações difusas de captação, armazenamento e uso de água são iniciativas importantes, que atendem às necessidades das propriedades da agricultura familiar, mas estarão estratificadas, portanto, de menos visibilidade para a popularidade dos gestores públicos.
Talvez interesse mais investir em grandes obras de captação e gestão centralizada que, embora não respondendo às reais necessidades da população, tornam-se mais visíveis aos olhos da população como um todo e, por isso, há mais retorno do ponto de vista de popularidade.
Entretanto, os impactos da seca de 2012 já evidenciam a necessidade desses dois caminhos: estruturação das propriedades da agricultura familiar, com tecnologias sociais difusas de captação e manejo de água de chuva, a partir dos potencias que a própria natureza oferece, considerando o caminho natural da água nas propriedades e comunidades, sem artificializar, para não agredir o meio ambiente.
E, por outro lado, a estruturação de reservatórios maiores, de acordo com os potenciais das bacias e sub-bacias hidrográficas, que possam dar suporte ao saneamento das cidades e, também, alimentar as estruturas difusas das propriedades da agricultura familiar, quando do surgimento de grandes secas como a atual que está assolando o semiárido brasileiro.
Esses devem ser os caminhos a serem aprofundados e percorridos no processo de construção de políticas públicas que, efetivamente, busquem consolidar a convivência com a realidade semiárida no Brasil.
Excelentes análise e artigo. O Brasil precisa realmente conhecer o Brasil, para permitir que o desenvolvimento humano, social e ambiental ocorre igualmente em todo território nacional. Cada vez mais é evidente a necessidade de planejamento em todos os projetos elaborados.
Curioso. Se há 47 anos houve seca da mesma magnitude, deve-se imaginar que se trata de um fenômeno cíclico. Supondo que naquela época a intervenção humana (aqui alegada) era menor, então a seca anterior foi mais grave ainda pois ocorreu num ambiente ecologicamente mais equililbrado.
Qualquer um que já tenha trabalhado no governo sabe que a “seca” no semi-árido é um excelente negócio. Garante um público cativo para diversas políticas paliativas, já que é impossível resolver o que não é problema, é característica. E o aumento populacional só agrava a situação. Já temos o semi-árido mais populoso do mundo faz tempo, baseado numa agricultura arcaica e arriscada, mantendo muita gente no limite da sobrevivência. Enquanto não começar uma discussão séria sobre controle populacional (controle de natalidade e limitação de população em algumas regiões) no máximo obteremos gelo enxuto.
Todos conhecemos a hipotese de Gaia, sabemos que a popula;áo cresce geometricamente, que nao existe nas escolas disciplina sobre controle populacional, nao estamos disciplinados ao consumo do bem mais precioso do planeta, a agua. O crescimento desordenado decretara o nosso fim. A especie humana no planeta e semelhante a uma praga, porem a Terra possui mecanismos para se proteger.
Geralmente, as grande obras não respondem aos sonhos dos agricultores e agricultoras da agricultura de base famíliar. As saídas para a convivência com a realiade semiárida estão nas próprias propriedades da agricultura familiar. São potenciais que a própria natureza oferece, de maneira bastante diversificada de uma para outra. Por isso avalio que é necesário uma política pública que leve em conta esse potenciais e o conhecimento local e possa apoiá-los de tal modo que se possa ter de uma malha de tecnologias sociais nas propriedades, de atendimento difuso, portanto, também de gestão difusa, para atender necessidades difusas, mas, também, se tenha a contrução de medios e grandes açudes que possam alimentar, quando das estiagens prolongadas (secas) essa malha de iniciativas nas comunidades e garantir condições dignas de vida, também, nos períodos de seca.
O nordeste é uma riqueza brasileira. Um bom e amplo plano de política pública, incentivo da agricultura familiar e todo veremos o enorme potencial do nosso semiárido. http://www.leregostar.blogspot.com
O nordeste é uma riqueza brasileira. Um bom e amplo plano de política pública, incentivo da agricultura familiar e todos veremos o enorme potencial do nosso semiárido. http://www.leregostar.blogspot.com