Promover ao invés de prover
01/05/12 05:00POR JOSÉ DIAS
A seca, fenômeno natural que, historicamente, tem castigado os nordestinos, apresenta conseqüências que, se não analisadas de forma correlacionadas com outros fatores, pode levar a uma compreensão da impossibilidade de se construir sustentabilidade na região semiárida brasileira.
Percebe-se que a gravidade de suas conseqüências, a cada nova seca, revela a necessidade de uma abordagem integradora das políticas públicas destinadas ao desenvolvimento da região. Entretanto, historicamente, ao contrário, percebe-se que a região foi abordada por políticas setoriais sem integração.
Geralmente, não há integração das ações das secretarias de governo, desde os municípios, estendendo-se pelos governos estaduais e respingando, também, nos ministérios do governo federal. Há casos em que, inclusive, há competição de uma secretaria em relação a outra. Há também interesse de projeção política de quem está nessas secretarias para ocupar futuros espaços políticos. Por isso, ao invés de integração, há competição.
A realidade revela a necessidade de um novo caminho. É necessário e urgente que haja um esforço concentrado para que as políticas possam assumir outra abordagem metodológica, de modo a atender as várias necessidades, não só da população humana, mas de todos os aspectos relacionados aos habitantes, incluindo, os demais seres que compõem a biodiversidade da região.
Nesse contexto, a educação contextualizada é aspecto fundamental e requer urgência de ser absorvida pelo currículo da educação formal, como meio pedagógico que permite maior contribuição para o desenvolvimento local.
Há muitos fatores de ordem cultural que precisam ser abordados pela educação, mas a partir de outro paradigma pedagógico, que possibilite as crianças, adolescentes, jovens e até mesmo os adultos estudar na perspectiva de ampliar seus conhecimentos, a partir da realidade onde estão vivendo.
Isso, sem dúvida, poderá influenciar um novo processo de rever comportamentos e valores, construir novas referências de relacionamento entre as pessoas e para como o meio ambiente onde estão inseridos, gerando elementos de sustentabilidade, a partir das potencialidades existentes no horizonte da convivência com o clima semiárido.
Há muitas situações em que os políticos se referem às pessoas como se fossem culpadas pelo estado de pobreza em que vivem: porque têm muitos filhos, porque não se planejam, enfim porque não adotam procedimentos de pessoas que tiveram acesso a novas formas de conhecimento e por isso estão adotando novos procedimentos de vida.
É necessário, portanto, mergulhar nessa realidade para poder conhecer as razões dessas pessoas viverem assim e, a partir desse conhecimento, desenvolver políticas que as tratem com uma abordagem integradora, para promovê-las como cidadãos e cidadãs, capazes de contribuírem, de forma efetiva, com o desenvolvimento local.
O Estado necessita assumir, metodologicamente, outro caminho: promover ao invés de prover. Promover as pessoas para serem cidadãos e cidadãs de modo a assumirem a missão, com eficácia, de mudar a realidade onde vivem, a partir dos limites e das potencialidades inerentes à região, gerando um novo paradigma: convivência com a realidade semiárida.
Esse é um dos caminhos para a sustentabilidade da região.
José Dias Campos, economista, é fundador do Cepfs (Centro de Educação Popular e Formação Social)