E se os catadores de materiais recicláveis desaparecessem?
14/03/12 16:57Por Luisa Bonin – Aliança Empreendedora
Esse seria um bom argumento de um roteiro cinematográfico para um drama não-ficcional. Estamos enjoados (ou pelo menos eu estou) dos mesmos argumentos para filmes de ficção hollywodianos, como: “E se um asteróide atingisse a Terra?”, “E se alienígenas invadissem o planeta?”. Se os catadores de materiais recicláveis desaparecessem, aí sim viveríamos o caos urbano, e isso renderia muitas histórias para um bom filme.
Não é novidade para ninguém que os catadores de materiais recicláveis prestam um serviço e tanto para a nossa sociedade. Segundo o site do Ministério do Meio Ambiente, o trabalho desenvolvido por eles reduz os gastos do governo com o sistema de limpeza pública, aumenta a vida útil dos aterros sanitários, diminui a demanda por recursos naturais e fomenta a cadeia produtiva das indústrias recicladoras com geração de trabalho.
Para exemplificar, vou falar do Projeto Eco Cidadão, desenvolvido pela Aliança Empreendedora em parceria com a Prefeitura Municipal de Curitiba, a Fundação Avina e o Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis. O projeto é, hoje, a maior iniciativa de inclusão de catadores apoiada por uma prefeitura no Brasil. Lançado em 2008, tem previsão de cinco anos e meta de implantar 25 Parques de Recepção de Recicláveis em Curitiba – sendo que, desses, já implantou 14 beneficiando 14 associações e cooperativas de catadores. Nos parques de reciclagem, além de toda a infraestrutura de máquinas e equipamentos, as organizações de catadores recebem assessoria e treinamento não só em classificação e separação de materiais, mas em gestão, vendas, empreendedorismo e negociação.
Vamos a alguns números que evitam o caos no manejo dos resíduos sólidos urbanos em Curitiba (digno de um recorde de bilheteria nos cinemas). De 2008 para cá, o número de parques do projeto aumentaram e com isso, a média de catadores beneficiados também, passando de 80 no primeiro ano para 267 em 2011. A quantidade de material coletada pelos catadores em 2011 foi de 4.713.220,63 kg e, se somarmos esse número com o dos outros três anos de projeto, o número total de material coletado é de: 10.333.035,88 kg!! Isso significa que, se essa quantidade de material não tivesse sido coletada pelos catadores do projeto, poderíamos encher cerca de 469 caminhões de tamanho médio, com caçamba de 50m³, com material reciclável que iria diretamente para os aterros sanitários, terrenos baldios ou até mesmo para as ruas, atraindo pragas e proliferando doenças. E isso sabendo que o número de catadores que coletam, separam em sua própria casa e vendem a atravessadores, em Curitiba, é ainda maior. Vale ressaltar que esses são números somente de um projeto local: a coleta feita por catadores é uma realidade nacional e merece atenção e políticas públicas específicas.
Primeiro de março foi o Dia Mundial dos Catadores. A data é comemorada em memória ao assassinato brutal de 11 catadores, na Colômbia. Nos últimos 20 anos, desde o massacre, as 15 milhões de pessoas que vivem da reciclagem no mundo vêm lutando pelo reconhecimento do seu trabalho. Ainda temos muito a discutir a respeito do destino dos resíduos sólidos urbanos no Brasil e no mundo, mas é gratificante saber que a profissão do catador vem sendo valorizada. Estamos vivendo um momento especial, em que governos, instituições e empresas têm discutido e agido, e organizações sem fins lucrativos, como a Aliança Empreendedora, têm realizados projetos impactantes para a inclusão do catador na economia formal, buscando capacitar e empoderar o catador, melhorando sua renda e qualidade de vida. Que outras iniciativas se somem a este grande movimento!
Parabens pela materia.
..importantissimça para conhecimeto e reflexao
Que bom que gostou da matéria, Mauro!
Parabéns aos catadores. Se desaparecessem seria o caos. Mas o certo seria o governo assumir esta tarefa e, aproveitar os catadores como funcionários com carteira assinada.
ta demorando, e muito, p. essa importante atividade deixar de ser sub-emprego. alguem ja viu catador com EPI (luva, oculos, bota??? ). os galpoes onde o material é recebido/processado são uma aberraçao tambem… tirando isso, o valor irrisório que é pago por KG p. quem faz a coleta. sub-emprego total!
Excelente matéria que chama a atenção para a importância dos catadores de materiais recicláveis. O Brasil ainda engatinha na gestão dos resíduos sólidos urbanos, porém, se consegue ter resultados positivos na reciclagem, este mérito deve ser atribuído aos catadores que mesmo só agora tendo reconhecimento do poder público, desenvolvem um importante trabalho econômico, social e ambiental.
Divulgar a importância dos catadores para a sociedade é fundamental.
Lembrando que a Política Nacional de Resíduos Sólidos foi aprovada em agosto de 2010 e em vários artigos o desenvolvimento e apoio a cooperativas e associações de catadores e a valorização da profissão são citados. A questão é fazer a lei acontecer, escrita e assinada ela já está!